e diel, maj 22, 2005

Formação MG - kristoff

Em Minas há dois coordenadores ou secretários e mais uma musicista, dito assim soa até engraçado, mas é a verdade.
Deste modo, eu estou assumindo uma responsabilidade que não pode corresponder a grandes expectativas, eu não posso afirmar que Minas terá condições de tratar de todos os tópicos envolvidos no tema Formação e Educação. ( Já respondi ao Leandro, estou enviando a ele apenas para estabelecermos este fórum particularizado na questão comum a todos).

Senti necessidade de participar, ainda que com modesta contribuição, por ter participado em Minas, nos anos de 1997/98 do projeto “Música na Escola”.
É um projeto para inserção imediata do assunto musical no contexto da Escola Pública. Polêmico, por envolver as próprias professoras de primeira a quarta séries como agentes diretas dessa campanha de sensibilização. Por outro lado, interessante até por isso ( e só agora me dou conta) pois traz a música de volta à escola incluindo as professoras que nela passam todo o seu turno profissional.

Foi idealizado por educadores respeitados, como Rosa Lúcia dos Mares Guia, Bethânia, Carlos Kater e Matheus Braga, sobre a coordenação de José Adolfo Moura.

Consistia no seguinte:

Primeiro semestre:
Um treinamento/sensibilização com as professoras ( algumas de educação artística, porém sabemos que isso é raro, então não foi usado como critério excludente) em caráter obrigatório. Isso garantiu uma participação maciça. Tais professoras freqüentavam o curso, com a carga horária de uma ou duas aulas semanais ( estou escrevendo agora, isso ainda não é um documento do projeto). No entanto, passado o primeiro momento, as professoras não apenas aceitavam mas viam que o curso estava entre os raros momentos de reciclagem, de sensibilização, de convite à atividade criativa, enfim, onde havia algum esforço para trazer um aprendizado saudável e prazeroso a elas (professoras).

Segundo semestre:
Novo caráter nesse treinamento: agora as professoras vivenciavam o próprio plano de aula elaborado pela coordenação, consistindo (em média) em quatro atividades.
Nestas estavam envolvidas as questões das brincadeiras (dessas de mão, de rua, com músicas, ritmo, gestos), da apreciação, da criação e da relação música/língua portuguesa, com brincadeiras usando divisão silábica, acentuação, parlendas e outras coisas.
Na fase do segundo semestre os músicos/professores (como era meu caso) tornavam-se professores visitantes nas escolas, uma forma de dar suporte às professoras que mantinham já o horário semanal de música (as visitas se estruturavam de modo que pelo menos uma visita de um músico/professor ao mês acontecia a cada sala de aula).
Deste modo, no segundo semestre de implementação, milhares de crianças passaram a conhecer e curtir o projeto Música na Escola.
Para dar colorido à presença do ‘Música na Escola”, duas medidas: um CD de canções infantis gravado especialmente para essa finalidade, com um vasto repertório tratado de distintas maneiras para uso em sala de aula. Então nele havia música cantada por coro infantil à capela, acompanhado de piano, acompanhado por grupo de câmara, voz solo e violão, até arranjos para pequena orquestra. Outra : a criação de uma banda: ( no caso, formada por uma voz masculina, uma feminina, flauta, clarineta,violão, teclado, baixo e percussão). Eu também integrava esta banda. No repertório, canções que estavam presentes nas atividades da aula de música e nas brincadeiras.

No interior do estado o modelo se reproduzia. Então, músicos/professores faziam o mesmo processo de treinamento com as professoras da rede estadual, um semestre depois, de modo que a capital funcionou como um piloto.
Resultado : em um ano, 200 mil crianças em Minas Gerais perceberam que a música puderia fazer parte do dia a dia escolar, na forma de uma ‘matéria’ ou ‘disciplina’, sem exigência de notas, claro.


No segundo ano ( pausa: descrevo assim, porque sabemos que ainda teremos aproximadamente esse tempo de Governo Lula/Ministro Gilberto Gil para uma experiência desse tipo em escala nacional)

No segundo ano, as professoras interessadas seguiam um treinamento mais espaçado, com a formação também de um coral, e novas professoras se iniciavam no projeto.

Importante: já não havia caráter obrigatório, esse funcionou como ferramenta para alavancar o início de implementação. Havia sim uma fila de interessados.

Pra finalizar, gostaria de fazer algumas observações pessoais sobre o projeto tal como eu o conheci:

Considero desejável a regionalização das brincadeiras de rua, bem como o repertório de cantigas, conferindo identidade e naturalidade. Claro que, num segundo momento, pode ser curioso o intercâmbio entre as regiões.
O espaço de apreciação ( falamos aqui de uma escuta ‘ativa’ e lúdica) pode ser o espaço da música que os alunos gostam, mas que num contexto de aula tornam-se objeto de outras propostas que não se encontram em outro lugar. É também o espaço de sensibilização e formação de público, ainda que a longo prazo .


E por último:
Esse projeto é mesmo uma espécie de paliativo, de caráter imediato e transitório. Isso porém não é um demérito, no meu modo de ver.
Se é transitório, esperamos que seja de uma realidade de agora ( conhecida por todos, não se faz necessária uma descrição óbvia) para uma realidade melhor, esperamos.

Uma forma de começar, algo testado e com bons resultados. Uma proposta à espera de sugestões de todos os estados para torná-la melhor.
kristoff
05/05/05